terça-feira, novembro 11, 2014

Exercício

notas caíam
gotas ondulando pele
do lago
sentado à beira
pérolas dos olhos
ardiam seio
durante
pés e dedos
tocando areia
 
 

segunda-feira, outubro 22, 2012

gosma


Uma gosma na garganta
e um mundo onde cachorros
imitando gatos 
sobem os muros

acredita-se na pureza
(talvez na inocência?)
de meninos de digitais 
impressas em mortes

A gosma na calçada
enrubesce

O grande dedo
que faz girar o globo 
aponta para nada

no jogo,
a batalha naval
só dá água

E essa gosma pálida
na garganta
endurece as cordas
ensurdece o gemido

no silêncio,
indigno de nota,
cospe-se a história

quinta-feira, junho 28, 2012

ocaso


sempre desiste
de morrer

na praia,
sal grosso

do mar lhe tirando
a ressaca

sempre
insiste

:

correr
na superfície,

sangrando,
do céu


quinta-feira, novembro 24, 2011

Viver é uma tarde

Viver é uma tarde de olhos perdidos no cinza-azulado profundo do rio,

a umedecer as retinas com sua face, tão própria, texturizada por ventinhos

e vespertinos raios de sol.


Viver é uma tarde

a passear as narinas pelos aromas de verduras tão diversificadas,

a doar pensamentos aos sonhos deixados no frescor do gramado.


Viver é passar uma tarde inteira

a pensar a mesma tarde em um poema,

enquanto se decifra o que já foi escrito nas pétalas de uma flor bela.


Viver é uma tarde de estar,

vazia de desejos e ansiedades.


É uma tarde cheia de irrealidades...


...antes de se anoitecer


apenas


uma tarde.


Idealizado em uma tarde a contemplar o Tejo e a ler um conto de Florbela Espanca.

"Assim façamos nossa vida um dia/ Inscientes, Lídia, voluntariamente/ Que há noite antes e após/ O pouco que duramos" - Ricardo Reis (Odes)

segunda-feira, novembro 21, 2011

Quando não há sol,
não gosto assim tanto do sol
quanto gosto do anonimato.
Prefiro o céu baixo
de nuvens escuras
para um mundo mais pequeno.

Os operários do inconsciente
trabalham trabalham; produzem lentes
de ver do ângulo mais bonito das coisas.

Na hora da despedida,
a lágrima tempera o novo caminho
e lubrifica o ferrolho da janela.
E, de uma primeira tristeza,
o desejo de saudade no futuro.

quinta-feira, novembro 17, 2011

Folhas pelo chão.
Comboio dos hemisférios
leva-me ao verão


Haicai para marcar o regresso. Em regressiva contagem, esse é o dia dez.

quinta-feira, setembro 08, 2011

Epifania

Quando tudo se revela:
ela.
Nua de significados.

Lucidez de olhos
outrora cegados.

Vazio dentro do nada,
translucidez apagada.

Apenas monstrinhos feitos
de partículas subatômicas
randômicas
jogando em tabuleiro universo.

Escrito no verso,
a cada peça, um disparate:
uma paga com cheque,
outra toma seu mate,

quinta-feira, julho 28, 2011

O dia mais feliz

Não sei dizer
o dia mais feliz da minha vida

tenho poucas lembranças
de grandes conquistas

O dia mais feliz da minha vida
pode ser hoje

hoje escuto vozes
e silêncios

hoje respiro ar
de pessoas

hoje sinto esse amor
me queimando a barriga

Não tenho grandes sonhos
para o dia mais feliz

Minha ambição
é que sempre me acorde
essa tormenta de amor

quarta-feira, abril 20, 2011

Espanando

O Bile Amarela está de volta? Não sei, mas tem post novo lá!

terça-feira, março 29, 2011

O menino do olho torto

Na cidade dos olhos certos havia um menino de olho torto. Ele tinha o olho torto e todo mundo olhava torto para ele, assim, na maneira de dizer. Ninguém tinha coragem de olhar certo para ele porque não entendiam nunca o que ele estava olhando. A cabeça dele para frente e o olho torto para um lado. Às vezes para o outro. Às vezes para cima. Às vezes para baixo. Nunca para frente seguindo a orientação da cabeça.

Uma menininha que veio da cidade das mãos cheias com os pais, curiosa e corajosa, decidiu ir lá perto olhar certo para o menino de olho torto. Os pais tinham se mudado com a menininha porque achavam que ela sofria por ter as mãos vazias em uma cidade de mãos cheias. A menininha tinha as mãos vazias e foi lá, escondido dos pais, é claro. Ela olhou bem certo para o menino e viu dentro do olho dele uma vida inteira. Uma vida com parques e professores e pedais e olhos e formigas. Uma vida inteira dentro do olho torto foi o que a menininha viu. E com as mãos vazias ela tocou o olho torto do menino. Porque com as mãos vazias ela podia tocar tudo o que ela quisesse. E oferecer o que bem entendesse. E ela tocou o olho torto do menino e pôde sentir tudo o que ele via.

O menino ficou feliz porque pela primeira vez alguém olhava certo para ele. Ficou tão feliz que colocou seu olho torto nas mãos da menininha. E ela sentiu tão intensamente toda aquela vida que tinha dentro do olho. Toda aquela areia, aquelas asas, aquelas casas, aqueles montes, aquelas gentes. Ela não entendia como aquele olho torto podia ver uma vida tão inteira. Mas ela entendia o que precisava, que era o tamanho da vida em todos os seus sentidos. E de repente, ela ficou toda envergonhada. Primeiro, porque tendo os olhos certos nunca tinha visto uma vida inteira; segundo, porque estava segurando o olho torto do menino. E o devolveu a ele.

A menininha voltou correndo, com as mãos vazias como sempre, mas com o coração cheio cheio, para contar aos pais sobre a sua experiência, dizendo que de agora em diante ela queria ter o olho torto. Seus pais concordaram que ela só podia estar doente, coitadinha, e levaram-na para ser examinada por um doutor na cidade das cabeças boas.

segunda-feira, março 21, 2011

uma flor

uma flor
é carinho em pétalas

dar uma flor
é tocar alma com dedos
de seda
e um perfume

receber uma flor
faz ascender
ao significado de ser

por um instante

uma flor

terça-feira, janeiro 25, 2011

Top 10 do adeus

Ouve minhas dez pedidas:
- não desperdices lágrimas
- sente sempre o derradeiro abraço
- não compres coroas pomposas
- ri dos tropeços dados com mãos unidas
- não te cubras de tules negros
- tem por certo que é culpa dos caminhos
- não queimes as fotografias
- lembra-te dos comuns segredos
- não consumas dor por analgésico
- escreve saudade em teus poemas


Último post meu no Blog de 7

domingo, dezembro 19, 2010

quando sinto muito

o princípio é não levar as mãos ao rosto
durante o choro

covardia
é ter medo de anestesia

e se, de morrer, tens esperança
não usa o cinto de segurança!


terça-feira, novembro 23, 2010

terça-feira, setembro 21, 2010

Hoje em outro lugar

Hoje tem "Poesia do dia" lá no blog de sete!

terça-feira, agosto 24, 2010

Loquacidade II

Exercito a retórica nas folhas
de papel amassadas.

Minha eloquência é percebida no silêncio
das letras desenhadas.


Hoje é dia de B7C: Mágica

terça-feira, julho 27, 2010

Inverno

o tempo me passa
sem sentir

consente horas
no frio

eu cosendo passos
a fio


Hoje tem Blog de 7

terça-feira, junho 08, 2010

Semana temática...

... no Blog de sete cabeças. Confira: clique

terça-feira, maio 04, 2010

Escolhas nem sempre são possíveis
ainda que se escolha reafirmá-las nos dias
até o último.
Qureres têm que nos querer.

Permanece um poste ou uma lua gorda
iluminando a calçada, a calada,
mas sentimentos medos
sombreiam os peitos.

Um facho sai de tuas mãos.


terça-feira, abril 13, 2010

I

Cala-se o grilo solitário
por falta de assunto.
A madrugada nem sempre faz barulho.
O brejo está distante;
os sapos, não se ouvem de aqui.
Passos no asfalto,
somente os das sombras notívagas;
os bêbados dormem sem roncar.
Hoje até o vento colabora com o silêncio
descobrindo o céu num sopro manso.

Hoje tem Blog de 7